A vez que voltava para o Brasil – Por Lucas Batista

E lá estava eu, voltando de Londres para Paris. Que chique. Mas estava mais pobre do que em toda a viagem. Tinha saído de Floripa, fiz escala no Rio e, depois, escala em Londres para, finalmente, chegar a Paris, mon amour. Fiquei na Cidade Luz uma semana e me apaixonei por ela. Cidade cheirosa? Sim. Pessoas grosseiras? Nenhuma. Tudo em volta do Sena. Perfeito para um turista solitário como eu. Encontrei minha queridíssima Adriana Edral por pouco tempo, mas o suficiente para deixar Paris mais iluminada, mesmo de dia.

Enfim, fui para Londres quando a primeira semana chegou ao fim. Adorei, mas já estava morto de cansado e não aproveitei tanto a segunda semana. Eu iria pegar meu avião de volta para o Brasil em Paris, então teria que embarcar no trem e voltar para o país de Jean Valjean.

Todo o estresse começou em Londres. Porra, Dona Rainha Vitória, e a acessibilidade? Eu, carregando uma mala enorme, de mais de 23kg (que meu irmão havia me emprestado), subindo e descendo as escadas do metrô. Foi então que uma das rodinhas QUEBROU. Porque, claro, não estava difícil o suficiente. Alguns queridos ingleses me ajudaram em alguns momentos (thank you very much, vocês facilitaram o meu retorno). Cheguei à King Cross Saint Pancreas, onde eu pegaria o trem de volta.

Até aí, tudo bem. Eu poderia superar.

Quando cheguei a Paris, parei numa estação que também é aeroporto. Mais uma vez, falta de acessibilidade. Estava descendo umas escadas com uma puta dificuldade, quando um simpático jovem asiático se oferece para me ajudar. Cada um segurou de um lado, foi o espetáculo da solidariedade. E eu, sendo ajudado no meio da estação de trem que também era aeroporto, pensei (não sei se falei, mas certo que penso): “ Ótimo, muito obrigado, são todos tão simpá… PQP, ele deixou a minha mala cair”.

Lá se foi mala, perfume Channel, champagne francesa e parte da minha alma. Ele pediu desculpas e foi-se embora. Deve ter quebrado tudo ali dentro. Não iria conseguir carregar 23 kgs sem as duas rodinhas da mala. Ela já estava rasgando embaixo, logo alguma coisa ia cair.

escadarias torre eiffel

(Na Europa a acessibilidade é negativa. Não existem rampas, apenas escadarias em qualquer lugar que você vá, desde pontos turísticos até o aeroporto. Na foto, as escadarias que dão acesso à Torre Eiffel ).

Fiquei esperando a gigantesca fila do táxi. Ok, me distraí, até que foi rápido. Quando chegou a minha vez, eu mostrei o endereço para o taxista. Ele ficou puto porque era muito perto e ele iria ganhar pouco, perder o lugar na fila dos taxistas. Começou a gritar comigo em francês e eu não entendia nada, o que me deixava mais angustiado, porque nem me defender eu podia. Começou a gritar para os funcionários e todos na fila começaram a me olhar. Não sabia o que fazer, mas, no final das contas ele me levou.

Entrei no táxi e nem vi as lágrimas caindo pelo meu rosto – ai que vergonha, mas foi assim mesmo. Fiquei no hotel para esperar meu voo da manhã seguinte. Características principais do lugar que fiquei: corredor do Overlook Hotel, sem ar condicionado em pleno verão europeu (sim, é quente pacas). Na manhã seguinte, levantei cedo e fui pegar um ônibus no aeroporto, para outro aeroporto. Enquanto esperava o ônibus abrir – ele já estava lá, mas só podia abrir 10 minutos antes de sair. O único outro ser vivo naquela parada era uma mulher louca, revoltada, que gritava para Deus (?), chegando lentamente mais perto de mim. Entrei no bus antes que ela gritasse “C’EST BLA BLA BLA BLA PAS” no meu ouvido.

Eu voava para a Inglaterra – finalmente – onde fiz escala, e voltava para o Rio. As pessoas já falavam português no avião. Quando cheguei ao Rio e fui despachar minha mala… Eu teria que pagar uma taxa extra porque aquele peso da mala ultrapassava o limite nacional, e eu não tinha levado o meu cartão com reais, só algumas libras me sobraram. Ligava para meus pais, falava com meu irmão, mas não poderia ser pago em outro lugar, tinha que ser pago ali, na hora. Abri minha mala no meio do aeroporto, carregando tudo que podia, mas ainda assim, não entrava no limite. Acaba a bateria do meu celular, pouco depois de eu saber que o portão de embarque foi fechado. Agora fodeu! Mas Deus só pode ser brasileiro mesmo; por um milagre de bondade do homem da companhia aérea, ele falou: “faz o seguinte: fecha a mala rápido e corre – mas corre – para o seu portão de embarque”. E foi o que eu fiz. Cheguei à minha casa, já estranhando aquela familiaridade, mas feliz por ter dado tudo certo. Nada ficou para trás ou se quebrou dentro da mala, foi a primeira vez que desfiz minha mala com extrema paciência. Tudo estava bem.

Se ao longo do texto você pensou: “Melhor levar uma mochila”, isso vai depender da quantidade de coisas que você for comprar lá. Além da mala, eu tinha uma mochila, que também estava rasgando de tanta coisa que havia dentro dela. E a grande dica é: se você não comprou a passagem nacional junto com a internacional, o peso limite de bagagem nacional é menor (15 kgs), então fique ligado para estar dentro do limite ou ter dinheiro pra pagar o valor extra. Pense positivo e acredite que você vai voltar lá. Assim, você se controla e não precisa comprar alguma coisa pra cada conhecido seu na primeira viagem, o que deixa sua mala com 23 kgs.


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