A vez que fui pegar um táxi em Beijing – Por Adriana Edral

Estava eu na minha primeira manhã solita em Beijing. Eu, uma brasileira de 1,56 cm e cara redonda, no meio de Beijing, uma cidade com cinquenta bilhões e quatrocentos quinqualhões de chineses. 

Em Bêijíng (sim, se fala assim, com todos esses acentos aí, vai tentando que dá), a estação de metrô é uma obra do Faraó; o sistema de metrôs de Beijing é extremamente interessante, veja só:


mapa metro

(mapa do metrô de Pequim. Eu tava na Line 4, na quarta parada. Tive que ir até a Tianamen`s Square. Tem um aplicativo no celular que te mostra todas as possíveis baldeações: https://itunes.apple.com/br/app/metro-de-pequim/id435348307?mt=8 . Se você for pra lá, usa que ajuda. Para ver esse mapa melhor, acesse esse link: http://www.travelchinaguide.com/images/map/beijing/beijing-subway.gif ).

Eu tive dificuldades pra entender o metrô de Pequim. Cada cor representa uma área e, por isso, tem preços diferentes (mas é importante salientar que tudo na China é tão barato que, com mil dólares pra gastar em uma viagem de um mês, você é praticamente um magnata no país). Voltando ao metrô: ele é todo escrito em ideogramas. A cada ponto de parada do metrô, há ideogramas indicando o nome da estação. Há palavras escritas no alfabeto romano, que indicam foneticamente como pronunciar o nome das estações (acreditem, isso ajudou muito a pegar o metrô). Assim, o metrô foi fácil: eu decorava o nome dos lugares por meio do alfabeto romano e isso me levava a qualquer lugar. 

Mas uma coisa que eu não sabia era que Béi-jîng (vai tentando pronunciar, vai tentando) era realmente grande. É uma cidade E-NOR-ME. Era tão grande a ponto de uma estação de metrô ter quatro saídas e elas serem tão distantes uma da outra que você pode se perder muito facilmente pelos quarteirões. E foi o que aconteceu comigo.

foto metro

(Essa estação é a que eu peguei em baldeação entre a Linha 4 e a linha 1, para ir para Wangfujing. NÃO ERA HORÁRIO DE PICO.)

Eu estava lá, saindo da Wangfujing (tá vendo o desenho da Cidade proibida bem no meio da figura do metrô? É ali essa estação, do ladinho da Tianamen East) para ver se comia os tais insetos (papo pra outro dia) e queria ver como era a parte mais “chique” da cidade (os shoppings lá são absurdos e é lá que tem a maior loja da Apple na Ásia. Pequenininha). Nesse lugar, as estações são mais próximas, então não tem muito como se perder. Mas eu me perdi.

Fui com a minha câmera fotográfica tentar desbravar o ambiente e conseguir a melhor imagem que representasse todo o consumismo desenfreado desse país recém aberto ao consumo e, depois de mais de 45 minutos andando por lá e fazendo foto de tudo que era florzinha diferente, eu não tinha ideia de onde eu estava.

Olhei para um lado para tentar encontrar algo que eu reconhecesse. Nada. Olhei para o outro. Nada também. Pensei: “ah, tudo bem, estou cansada, quero voltar pra PKU (Peking University, lugar onde fui “trabalhar”, mas também é papo para outra hora), então vou pegar um táxi”. Que ideia maravilhosa! Era só pegar um táxi! Se eu soubesse que pegar um táxi na China era IMPOSSÍVEL, teria me preparado antes.

Então, vou contar o que aconteceu comigo para não acontecer com você. Primeiro, os taxistas raramente param para os ocidentais. Hoje eu sei o porquê, mas na hora eu fiquei um tanto desesperada, pois eu não sabia uma palavra em chinês (a não ser oi, bom dia, obrigada, de nada – que também posso ensinar aqui rapidinho pra vocês em outro post, é super legal) e eles, aparentemente, não sabem uma palavra em inglês.

Sem brincadeira, fiquei 20 minutos sendo rejeitada pelos taxistas de Bêi-jíng. Cheguei a pensar que estava cheirando mal e alguém contou pra eles, sei lá. Quando um deles parou, decidi mostrar o cartão do dormitório que eu estava. O taxista se recusou, fez cara feia e saiu com o carro. E hoje eu sei o porquê; muitos taxistas não sabem ler em seu próprio idioma. Imaginem, nós temos algumas letras que, organizadas de maneiras diferentes, formam-se novas palavras. Sabendo as letras do alfabeto, sabe-se ler. Para eles, a leitura não é linear, é circular: cada ideograma significa uma palavra. Assim, para se ler na China, é preciso saber mais ou menos uns 2000 ideogramas, coisa que muito chinês não sabe.

Enfim, com a calma que só o desespero traz, sentei e fumei um cigarro. Parei, olhei pros lados na esperança de encontrar algum ocidental. Nada. Fumei mais um cigarro. Nada. Entrei em uma vendinha, comprei uma Coca-Cola quente (são raros os lugares em que as bebidas estão geladas) e fui fumar meu terceiro cigarro. O quarto cigarro me trouxe a confiança que eu precisava para começar a abordar as pessoas na rua. Se eu não achava ocidentais, comecei a abordar orientais mesmo.

E aí que a bobeira começou: eu parei um senhor e falei “Ni-hao” (oi). Ele sorriu pra mim. E eu disse: “Do you speak English?” Ele sorriu mais ainda, deu uma risadinha de quem estava achando a maior graça da minha voz e chamou um amigo. Pensei: “ótimo! O amigo fala inglês!”. Falei com o amigo: “do you speak English?”. Agora, os dois riam enquanto eu pedia desesperadamente por ajuda. E quando já havia quatro senhores e uma senhorinha rindo do meu inglês, passa na rua uma chinesa mais nova. Ela veio como um anjo me salvar e disse: “você está perdida?” (ela falou em inglês, óbvio) e eu, quase chorando, disse: quero ir para a PKU, mas não consigo pegar um táxi! Ela parou um taxista e disse: “blá blá blá blá blá blá BEIDÁ”. Se virou pra mim e disse: “o apelido da universidade é BEIDÁ. É só dizer isso que eles entendem”.

Moral da história: tenha áudios com os nomes dos lugares que você quer ir. Ou decore a fonética. Eu pedi a um estudante da universidade para gravar pelo whatsapp os nomes dos lugares que eu queria ir. E foi assim que eu comecei a pegar táxi na China.

Agora, se você quer ver como a Wangfujing é, acessa esse site aqui que ele mostra tudo. Mas assim, TU-DO: http://www.proximatrip.com.br/china/pequim/pequim-os-insetos-e-os-shoppings-da-rua-wangfujing/.

 


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